O Grito de Mueda – Primeira Ópera Nacional de Moçambique

Escola de Música

Esta ópera é resultado de um trabalho de criação coletiva no qual participaram vários músicos e dramaturgos moçambicanos, argentinos e brasileiros. O libreto foi escrito por Nilza Laice, Oscar Castro[1], Feliciano de Castro Comé e Hortêncio Langa. A ópera é uma recriação artística livre do Massacre de Mueda, ocorrido na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, em 16 de junho de 1960. Essa tragédia do povo moçambicano foi fundamental na construção da consciência independentista, que logo se materializou na luta de liberação nacional. Em alguns momentos o libreto se refere à necessidade de lutar pela unidade de África, de resistir às arbitrariedades de quem ostenta o poder, da solidariedade entre os povos africanos, da necessidade de fortalecer a autoestima e lutar contra a pobreza e a adversidade. 

Os feitos recordados na ópera não intentam lesionar a grande amizade e cooperação que hoje existe entre os dois povos, que em 1960 tinham visões diferentes sobre Moçambique. Mas é necessário analisar a história e cultivar a memória para que não se repitam os erros do passado e os acertos sejam canalizados com eficácia em benefício de todos. Entre outros objetivos essa ópera aspira trazer uma mensagem de esperança para as novas gerações.

A música foi criada por Feliciano de Castro Comé, Hortensio Langa, Ilidio Manhica, Pedro Tinga, Samuel Manhica Jr., Luis Caruana, Diego López y Oscar Castro, Maria José Chevitarese e Isaías Ferreira. Embora algumas melodias e ritmos presentes na ópera tenham tomado como inspiração a música moçambicana de transmissão oral, O Grito de Mueda é uma composição absolutamente original.

 SÍNTESE ARGUMENTATIVA

Prólogo: Uma anciã, sobrevivente do Massacre de Mueda, deseja deixar seu testemunho antes de morrer.

Ato I: Escola rural em Mueda. 15 de junho de 1960. Os estudantes esperam o início das aulas. Chega o professor, acompanhado por um missionário jesuíta estrangeiro, executante de bandoneón. Os estudantes querem conhecer esse estranho instrumento. Depois de tocar algumas notas, o missionário é convidado a colaborar com o professor, que nesse dia ensina os nomes dos continentes. A aula é interrompida bruscamente pelo choro de uma adolescente. Uma jovem explica que a mãe da adolescente morreu e que o pai dela tem planos de casá-la para cobrar o lobolo[2]. O professor a tranquiliza e pede ao missionário que acompanhe a adolescente até a casa dela. A aula retorna, mas é novamente interrompida pela chegada de camponeses. Eles pedem ao professor que escreva uma petição para ser entregue ao Governador de Cabo Delgado em reunião convocada pelas autoridades coloniais, e que ocorrerá no dia seguinte. Os camponeses ditam ao professor os pontos de suas demandas acreditando que serão atendidos pelo governo português. Somam-se ao grupo uma enfermeira e um motorista de ônibus, que estão de passagem para Maputo[3], provenientes de Tanzânia, país que já teve sua independência do Império Britânico. Os estudantes escutam a conversa dos adultos e pedem para acompanhá-los na reunião do dia seguinte. O professor não autoriza e recomenda que os jovens peçam permissão aos seus pais.

Ato II: Aldeia Makonde. 16 de junho de 1960, muito cedo. Uma mãe canta enquanto embala seu bebê; outros homens e mulheres trabalham em diversas tarefas. Pedro e Ana, dois dos estudantes da escola, pedem permissão a seus pais para participar da reunião com o Governador. Os pais de ambos recusam categoricamente o pedido, mas perante a insistência dos jovens, cedem com muita preocupação e temor. Quando os jovens estão para partir, um bailarino de Mapiko (que encarna espíritos dos antepassados), através de sua dança, adverte aos jovens do perigo de enfrentar os colonialistas. Os jovens não entendem a mensagem e partem para a reunião.

 

Ato III: Prédio da Administração de Mueda, em frente a praça central. Meio-dia de 16 de junho de 1960. O Governador de Cabo Delgado, o Administrador de Mueda e o Comandante do Exército colonial trocam opiniões sobre a possível reação da população quando aprisionarem seus líderes. Intrigados pela presença de um missionário estrangeiro que percorre as aldeias, mandam chamar o Padre Madeira para pedir-lhe explicações. Enquanto esperam a chegada do padre, falam das jovens e belas mulheres nativas, referindo-se a elas com expressões de conotação sexual. Chega o povo de Mueda à praça e seus líderes leem o texto do manifesto com suas demandas. As autoridades portuguesas zombam da petição e reafirmam seu domínio sobre Moçambique. Os líderes camponeses são violentamente aprisionados pelo exército colonial. Quando o povo tenta defendê-los, o Governador ordena abrir fogo sobre a multidão. Muitos caem mortos enquanto outros fogem aterrorizados. Ao cair do sol, os familiares e amigos dos mortos voltam à praça para recolher seus entes queridos e, num canto final, reafirmam seu desejo de liberdade.   

 

[1] Gestor e inspirador de “O Grito de Mueda”. Até a data de sua morte era professor na Universidade de Buenos Aires (Argentina) e professor convidado na U.E.M.- Moçambique.

 

[2] Aporte econômico realizado pelo futuro marido à família da noiva.

[3] Atual capital de Moçambique, é a província situada mais ao sul do pais.

Detalhes do evento:

Dia(s): 16 ago 2025
Horário: 18h30 - 20h00

Local: Salão Leopoldo Miguez (Escola de Música/UFRJ)
Rua do Passeio, 98 - Lapa, Rio de Janeiro , RJ, 20021-290

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Inscrição:

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Valor: ENTRADA FRANCA
Período de inscrição: retirar senha meia hora antes do início na Portaria
Site: http://musica.ufrj.br
Instituição responsável: Escola de Música da UFRJ
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